Se estás conformado só te falta mesmo ser sepultado.Mais do que as doenças, mais do que a crise económica, mais do que as derrotas que todos os dias acontecem, o grande drama do mundo é a conformação. A total e absoluta (e triste, tão triste) conformação. A conformação é a ausência de sonhos, a ausência de objectivos, a ausência de projectos, a ausência de vontades: a ausência de revolução. E há cada vez menos revolução no mundo. Se não há revolução podes ser tudo; mas feliz é que não.O problema do mundo não é a massificação; é a masificação.A massificação do “mas”. O problema do mundo é linguístico. O problema do mundo não são as convulsões; são as conjunções. A obsessão, diabólica, pelo porém, pelo contudo, pelo todavia. Porém mas é o caralho. Contudo mas é o caralho. Todavia mas é o caralho. Noventa e oito por cento das pessoas dizem “mas” sempre que falam; e as outras duas por cento são felizes. Por mais que tenham dificuldades (e têm tantas, tantas tantas), por mais que por vezes pareça que não vai dar para chegar lá (e são tantas vezes, tantas tantas). Por mais que tudo lhes diga “mas”, há sempre pessoas que não se conformam.O grande segredo para estares vivo é, por mais evidente que pareça, só morreres quando fores sepultado.Até lá, tens a obrigação de sonhar, de projectar, de acreditar. Até lá tens a obrigação de tentar. Pelo menos isso: tentar. E nunca é tarde para tentar. Se tens oitenta anos e queres ainda sentir o orgasmo melhor da tua vida: vai; tenta. Se tens noventa anos e queres ainda escrever o livro a tua vida: vai; tenta. Se tens cem anos e queres ainda encontrar a mulher que vais amar: vai; tenta. O mais provável até pode ser não o conseguires. Mas só o improvável vale a pena. Até a felicidade, se for previsível, é uma tristeza.Acreditar no improvável é, provavelmente, a melhor decisão que podes tomar na vida.E ver. Arrisca ver. Ver de verdade. Ver o que só tu consegues ver. Tu vês coisas que mais ninguém vê; eu vejo coisas que mais ninguém vê. Toda a gente vê coisas que mais ninguém vê. E é dessas visões que eu tenho e tu tens que se faz a evolução do mundo. O mundo só avança quando essas visões se transformam em execuções: em actos reais, em matéria palpável. Acreditares no que vês e arriscares apostar no que vês é a única forma de altruísmo que o mundo te dá a executar. Aposta no que é só teu. É só assim que estarás a apostar em tudo o que é nosso.O mais cego não é o que não vê; nem sequer é o que não quer ver. O mais cego é o que só vê.

Pedro Chagas Freitas in "Prometo Falhar"

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