A arte da amizade

Hoje a Martine queixava-se das pessoas que a rodeiam não a compreenderem e por vezes, exigirem demasiado dela, mesmo as que se dizem as grandes amigas. Gostaria de não a compreender, mas infelizmente compreendo. Há mudanças que ocorrem nas nossas vidas que nos mudam e que muitas vezes não são compreendidas pelas pessoas que nos rodeiam. No meu caso, lembro-me de duas situações que me mudaram para sempre, a primeira foi a morte da minha avó, sempre foi uma segunda mãe para mim, andavamos sempre "picadas" uma com a outra, mas sabíamos que lá no fundo esse "picanço" era amor. A minha avó faleceu há cerca de 8 anos, nada previa que isto acontecesse, apesar dos seus 90 anos, era uma pessoa rija e sempre bem disposta, mas infelizmente um AVC levou-a. Eu não estava presente e as últimas imagens que guardo, é as de ela estar deitada no chão da sala dos meus pais com a camisa toda rasgada e com os médicos do INEM a tentarem reanimá-la. Apesar de terem sido bem sucedidos e de a terem transportado com vida para o hospital, o seu coração não resistiu. Nesse dia parte da minha felicidade morreu! Revoltei-me contra tudo, não aceitava que esta situação tivesse acontecido, assim, do nada. Não sou mais a pessoa que ia para as festas e andava aos pulos. Não sou mais a divertida do grupo. Até as minhas amigas que me conhecem há muitos anos me dizem " Parece que a tua felicidade desapareceu!", e com toda a razão, mas também não sei como dar a volta a tudo isto.
O segundo acontecimento foi o meu casamento e posterior divórcio. Quando nos apaixonamos, parecemos umas parvinhas, aceitamos tudo e mais alguma coisa e foi assim que eu vivi durante 4 anos, vivi para agradar a outra pessoa e esqueci-me de mim. Suportei gritos, suportei insultos, mas sempre com a esperança que ele mudasse... e casei!
Nada mudou! Os gritos continuaram, os insultos também, as discussões eram constantes, eu basicamente era a criada da casa. Passava dias e dias sem me dirigir a palavra, tudo o que eu fazia estava mal feito, tudo o que eu dizia era errado, eu lavava, limpava e cozinhava e foi assim durante mais 4 anos...
Até que um dia dei o grito de libertação e os 8 anos que tinha partilhado com aquela pessoa foram colocados para trás das costas e decidi seguir a minha vida. Continuo a achar piada quando as pessoas me vêm dizer "Ele até parecia boa pessoa!" As aparências iludem e ainda hoje tenho pavor a discussões, tremo quando alguém fala mais alto e uma coisa que eu gosto muito é de, volta e meia me isolar de tudo e de todos, ficar no meu canto, chorar quando me apetece chorar e rir, quando me apetece rir.
Não e fácil voltar a ter uma alegria estonteante depois de tudo isto, ainda por cima porque estas duas situações ocorreram uma a seguir a outra. Há muitos traumas para serem ultrapassados, ainda tremo quando ouço alguém a discutir mais calorosamente, só tenho pena e que as pessoas não percebam que estas situações não se ultrapassam de um dia para o o outro, e necessário o luto, mas com jeitinho hei-de vencer. Felizmente encontrei alguém que me ama verdadeiramente e acima de tudo me compreende e apoia nesta minha luta. Apesar de infelizmente estar longe neste momento, sei que esta sempre lá para me ouvir e para me confortar o coração. Um amor assim só se encontra uma vez e eu encontrei o meu. <3

Comentários

  1. A vida também é feita de bons e felizes momentos que com o tempo e a coragem te irão ajudar a ultrapassar os momentos menos bons. É essa a magia da vida. ASS. ex-colega

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  2. Todos temos ritmos próprios para lidar e ultrapassar fases menos boas e um processo de luto não se faz de um momento para o outro. Como o próprio nome indica, é um processo. O facto de teres encontrado alguém que te ama e compreende, significa que o processo está em bom desenvolvimento :) Beijinhos

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