Hoje morreste-me!

Não me lembro do dia, não me lembro da hora, mas lembro-me de quando a conheci. Uma pequena criatura, num corpo franzino, que uma rajada de vento era capaz de arrastar, mas com uma alma enorme, uma força de vontade gigante para os seus 80 e muitos anos. A partir daquele momento adoptei-a, ganhei uma avó.
Nunca fui capaz de lhe chamar avó, era sempre a Nana, mas acho que lá no fundo era assim que ela se sentia a minha avó.
Foram 8 anos de convivência, entre momentos de ternura e outros mais acesos, entre palavras meigas e outras vezes de revolta. Era uma incompreendida. Nunca ninguém percebeu que ela deu demasiado de si e esqueceu-se dela própria. Não teve vida! Não casou! Não teve filhos! Viveu para os sobrinhos e sobrinhos-netos. Eles foram a sua vida, mesmo que por vezes não o tivessem percebido.
Era uma mulher de armas, daquelas que já não se fazem. Estudou, tirou o curso, trabalhou para criar os sobrinhos e aos 70 anos ainda dava explicações. Contado ninguém acredita!
A pintura era a sua paixão e que paixão. Tudo servia de base para uma tela, uma tábua, um pequeno papel, tudo o que desse para pintar, era pintado, pois claro!
Guardo as pinturas, essas não me as vão tirar, guardo os pequenos poemas que tanto gostava de escrever para acompanhar os quadros. Esses são meus! Privaram-me da sua companhia. Doeu, doeu muito e não fiz o que tanto me ensinou, lutar pelo que queria.
Não fiz Nana desculpe.
Não me consegui despedir de si, ainda no último fim de semana esteve para ser, mas não foi.
Sinto um vazio. Dói-me o coração. Dói-me a alma. Pergunto-me... Porquê Nana? Porque é que abdiquei de si, se era uma das pessoas mais importantes na minha vida?
Não me despedi de si, desculpe! Não tive coragem de enfrentar o inimigo para continuar a privar da sua companhia, desculpe. Sou uma fraca, não me ensinou isto, mas aprendi-o.
Desculpe.
Quero que saiba, esteja onde estiver, que gosto e sempre gostei muito de si. Adoptei-a, desde o primeiro minuto.
As suas gargalhadas e a sua voz continuam na minha cabeça, mesmo já tendo passado 3 anos desde o último dia em que nos vimos. Os seus segredos continuarão guardados e sempre muito bem fechados.
Obrigada Nana.

Como diria o seu ídolo * hasta sempre comandante!* porque você era o nosso comandante e nós seremos sempre as suas tropas.

Comentários

  1. :( Ficam sempre as recordações, os pensamentos, ensinamentos e o que viveram juntas. Ela sabia que era bastante importante para ti, essas coisas sentem-se :)

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